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decordovanaturais

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 Peço perdão por discordar.

 O dicionário prático ilustrado ( o pequeno larousse português) da editora Lello & Irmão, publicado em 1997, diz que Simulação é o “acto ou efeito de simular; fingimento” e de Simulacro refere ser uma “aparência sem realidade; fantasma, visão ou representação”. Os étimos latinos são respectivamente simulatione e simulacru.

Da leitura das duas entradas do dicionário não se vê grande diferença de sentido etimológico entre os dois termos. No entanto no meu vocabulário mental surge uma diferença enorme entre estas palavras.

Para mim, Simulação é um fingimento sim, mas com um efeito de treino, exercitação, experimentação de um facto hipotético e não real, para melhorar ou clarificar a resolução de um qualquer problema que, a existir na realidade, já terá pessoas treinadas para o solucionarem normalmente. Diz-se assim de muitos exercícios de bombeiros, defesa civil do território, acções militares, evacuação das escolas, etc…

Pratica-se a simulação para adestrar os vários agentes de modo a que, em caso de necessidade real, possam mais fácil, eficaz e eficientemente resolver os problemas que surjam. Considero-a, pois, uma acção meritória, a que se deve emprestar todo o empenho dos vários actores de modo a ter a máxima verosimilhança e testar todas as possíveis ameaças, encontrar as melhores oportunidades, verificando as fraquezas de cada envolvido, para as corrigir no futuro, e fomentando as forças dos mesmos. É bom simular!

Considero porém que o Simulacro é uma mentira, uma cena montada por alguns actores com o intuito de enganarem os espectadores, fazendo crer que a sua representação é a realidade. Vi, por acaso hoje na televisão uma notícia de uma mulher que mandou matar o marido e que encenou um simulacro para fingir perante os vizinhos que não sabia de nada, levando-os assim, a participar na ‘ilibação da pobre esposa/ viúva’.

Há um ditado referindo que a verdade vem sempre ao de cima como a borra do azeite. Pode a mentira resolver um problema de curto prazo mas não o resolve em definitivo.

 

O Jogo do Parlamento, em boa hora patrocinado pela Assembleia da República, deve ser uma simulação de uma assembleia e do seu funcionamento normal. Através da prática nestas acções lúdicas os jovens estudantes aprendem diversos conhecimentos inerentes a:

- inscrição de uma candidatura;

- funcionamento de uma comissão eleitoral;

- desenrolar de uma campanha eleitoral;

- responsabilidade e consciencialização do direito e sentido de voto;

 - vários papéis numa mesa de escrutínio (presidente, secretários, escrutinadores, representantes das listas e votantes);

- contagem de votos e aplicação do método d' Hondt;

- vários papéis de uma assembleia (presidente, secretários e participantes);

- diversos tipos de moções, distinguindo as suas características para as saber aplicar;

- argumentar, discutir, acordar, votar e… aceitar a vontade dos outros;

- compreender a existência de maiorias, minorias, forças de bloqueio, persuasão da opinião pública…

- aceitar as regras cívicas de comunicação e respeito entre os parceiros.

 

Através dos conhecimentos adquiridos e postos em prática simulada desenvolvem-se competências e, por ventura, descobrem-se vocações políticas.

O Jogo do Parlamento deveria pelas razões acima apontadas ser obrigatório nas escolas. No entanto, na nossa sociedade instalada, em que ninguém se quer apoquentar para além das suas obrigações obrigatórias verifica-se que os alunos não se inscrevem para não terem trabalho e os professores não os motivam porque consideram não ser esse o seu papel.

Uns e outros erram. Os primeiros por perderem um jogo formidável, com ‘muita pinta’ e em que poderiam aprender jogando; os segundos porque não compreenderam ainda que a Responsabilidade Social pessoal desafia a que cada um se exceda nas suas obrigações.

O Jogo do Parlamento é muito positivo se for jogado em plenitude, simulando a realidade. Da mesma forma que não se concebe um jogo de polícias e ladrões apenas com polícias, ou um jogo de xadrez com um único jogador, o Jogo do Parlamento perde 99% do interesse se nele não transparecerem todos os papéis atrás referidos. É que por vezes há o perigo de uma Simulação se transformar num Simulacro!

Quero deixar uma pequena homenagem a minha Sogra que ontem partiu para o Céu.

 

Considero que ao longo dos meus trinta e sete anos de casado sempre fui tratado por meus sogros como verdadeiro filho, como posso testemunhar pelo amor e consideração deles para comigo a que eu tentei corresponder com a fragilidade que me é própria, apoiado no compromisso que assumi e deixei registado no livro de honra da Casa Bambi, no dia dos meus Esponsais.
É no silêncio da sua aceitação na doença que a foi incapacitando fisicamente que eu posso ler um hino de poesia à Vida. Na sua fraqueza, era uma Mulher forte que deu exemplo junto das Filhas e Netos a quem os respectivos cônjuges não devem ter vergonha de acompanhar.
Lamento os momentos em que não consegui aproveitar da sua companhia, absorvido por tantas outras urgências que nos fazem tantas vezes trocar o importante por um qualquer supérfluo. Mas recordo com tranquilidade os breves momentos em que falávamos da Vida Eterna e do modo confiante como Ela aguardava a Sua chamada. Partiu ontem, no último dia do ano. E penso que cumpriu até ao fim o seu papel de testemunho fiel do amor que Deus lhe deu e que ela conseguiu repartir à sua volta.
Recordo a sua figura impar, pela elegância e simplicidade, que me cativou logo desde a minha juventude quando os Primos iam a nossa casa dar as Boas Festas, por esta mesma altura do ano. Lembro o simpático convite para o lanche quando comecei a namorar a sua Filha mais velha, Alice, e a confiança que depositaram em mim a partir de então.
Não posso esquecer o apoio dado em Lourenço Marques aquando do nascimento da minha Filha Susana. Neste particular não posso igualmente olvidar o apoio incondicional que nos foi dado ao longo de todo esse ano pelos Amigos Tia Belinha e seu Marido Rui Nunes da Silva.
Ao longo da minha estadia no Estoril, e se eram tempos difíceis, sempre encontrei a porta da Casa Bambi aberta como se de facto fosse seu Filho. E aqui apraz-me lembrar também a sua Mãe, a ‘Litchy’, e a Tita, que na Vila Nina, também nos recebiam no seu ambiente familiar. Foi por esta altura que nasceu a Ana Filipa, a segunda princesa da família.
Depois, como fui trabalhar para Évora, houve uma maior autonomia e maior espaçamento nas nossas visitas mas foi um amadurecimento no nosso relacionamento que nos aproximou ainda mais.
A minha benjamim, e conterrânea, a Teresa, já sofreu este distanciamento por não ter a prática da conversação em alemão que as irmãs tiveram. No entanto estou convicto que o amor não se esbateu e que ainda gozou da alegria e mistério dos Natais na Rua de Brëmen, começando o Advento com a feitura das coroas e dos speculatius , ao som de música tradicional alemã, enquanto ardia a lareira e, no dia Vinte e Quatro, com o encaminhamento solene das crianças para o andar superior até ao toque da campainha, na junção deslumbrante da árvore de natal, sempre enorme, com as velas acesas e do presépio, na leitura solene do Evangelho da Natividade e consequentes votos de Boas Festas, e da magnificência do jantar de consoada com o peru trinchado a rigor pelo dono da casa, das castanhas,e purés de maçã e de batata doce e choucrute e couve de Bruxelas, seguido de bolos vindos da Alemanha, maçã assada com geleia e o leite creme…
Mais uns anos e começamos nós também a ter netos. Passamos então para o mesmo lado da barricada com cabelos brancos e outras mazelas. Contudo é por esta altura que começa a descortinar-se a fragilidade da saúde, que ainda lhe exigiu mais força interior para a unidade da família ao redor da Omi e do Avô, da Avó Marion e do Avô Francisco José. Do seio de Deus, estou convicto que Ela continuará a zelar por essa harmonia e união.
Para as minhas Filhas e Sobrinhos, quero lembrar um soneto que o meu Pai escreveu para a sua Avó Ana, e que se pode adaptar com total propriedade a esta Querida:
Tinhas a beleza dos níveos cabelos,
Ó santa velhinha que Deus me levou;
Tu tinhas cuidados e grandes desvelos,
Meiguices, carinhos, que o tempo guardou…
 
Por nós tu vivias, sofrendo em teus zelos,
Com medo do mundo… que o mundo pecou!
Conselhos tão santos, tão vivos anelos;
Tão firmes em teus credos… tão fraco que eu sou…
 
…Um dia, não esqueço, calou-se-te a voz…
Saudosa dos Idos, fugias de nós…
Teus olhos, tão meigos, pousaste nos meus…
 
-Cansados da terra falaram dos Céus!-
E o tempo, correndo, passava veloz…
…Então num silêncio… dissemos adeus…
 
(Luiz Cordovil)
 
 
 
 
  Marion, descansa em Paz, pede ao Senhor pela tua Família, dá saudades nossas aos que já partiram, espera por nós. Até um dia…