Alentejo alem água
“Alentejo alem água
Tanta água te levou
Só não me levou a mágoa
Em que me a alma tornou”
Margarida Morgado, in “Água pródiga”, 13Mar2002
Eu era um jovem ainda
Quando fui para o ISESE.
Fixei uma cara linda
Como ainda hoje acontece,
Qual amor que não falece.
De então até hoje trago-a
Gravada no coração.
Numa dor cheia de mágoa,
Barca cheia de ilusão,
Alentejo além água.
No final todos saíram
Cada qual para seu buraco.
Uns choraram, outros riram
Urdindo o próprio saco.
Partindo o coco e o caco,
Toda a gente dispersou.
Mas a saudade era tanta
Que a reunir nos chamou.
E para pintares a manta
Tanta água te levou.
Te encontrei, Margarida,
Depois de muito correr.
Vejo-te com muita vida
No espelho do teu sofrer,
Mas com Esperança a valer.
Seja a tua vida anágua,
Simples, transparente e pura.
Teu desejo é uma frágua,
Água mole em pedra dura:
Só não me levou a mágoa.
Em amores e desamores
Todos andámos cantando.
Chegaram agora as dores,
Todos ficamos chorando,
Uns aos outros perdoando.
Cada qual se encontrou
Consigo próprio, um momento,
E consciente pensou
Neste grande sacramento
Em que me a alma tornou.
O ‘Caldeira’, de Castelo Branco, depois de uma chamada do Banco do tempo