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decordovanaturais

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Nem tudo o que se prevê é realizado.

Umas vezes porque é previsto mas não desejado e não passa de um sonho que se esqueceu ao acordar;

outras porque é previsto mas não realizável por falta de meios para o conseguir;

outras ainda, sendo previsto e realizável, aparecem mais de mil empecilhos que dificultam quando não impedem o que tanto quereríamos...

Ora é aqui que eu quero chegar: No escutismo uma das grandes lições de Baden Powel é um quadro em que se vê um escuteiro a dar um pontapé no 'IM' da palavra ' I M P O S S Í V E L '. Penso que já terei falado nisto noutras ocasiões, mas a lição ficou mesmo marcada em mim!

Quando se quer muito uma coisa não há impossíveis que travem.

Sou Servita de Nossa Senhora de Fátima e como tal é meu compromisso (voluntário e consciente) de prestar pelo menos dois serviços em Fátima por ano. Eu gosto de colaborar com os retiros de doentes. Sou útil aos doentes, tenho tempo para 'carregar baterias' ( fugindo ao stress do dia a dia ) rezando e, porque nestes três dias de convívio se aprende muito nos contactos permanentes com os doentes e com os restantes voluntários.

Este ano, com as novas políticas do Ministério da Educação, não sabia que datas haveria de propor para esta tarefa e lá enviei uma disponibilidade muito medrosa para o mês de Agosto, durante as minhas férias. Mas veio um SOS para um retiro de 21 a 24 de Junho. Faltavam servitas homens.

O primeiro passo foi pedir aos colegas encarregues das escalas dos exames para me deixarem livres estes dias. 'Sim senhor, põe o pedido por escrito para ver o que se pode fazer'. Alguns dias depois o veredicto: ' 21 de manhã não podemos dispensar, de resto tudo bem'.

No princípio de Junho veio uma convocatória do Tribunal para comparecer num julgamento, como testemunha, Sexta feira, 22.  Bom, podia ir a Fátima na Quinta, depois de almoço, receber os doentes e organizar tudo e dar um saltinho a Évora na Sexta para a audiência - são só 200 kilometros para cá outros 200 para lá... Lá fiz um requerimento ao Juíz dizendo do meu problema e pedindo para ser ouvido noutro dia. Foi aceite ! Entretanto noutro processo em que também tinha de estar no Tribunal noutra data, recebi na semana de dia 13 uma convocatória para o mesmo dia 21para atestar num problema muito urgente. Aqui já não podia fugir.

Enfim, consegui chegar a Fátima a horas de dar entrada aos doentes de Viseu.

Foram três dias formidáveis   pois vi com alegria voluntários jovens a darem o seu tempo com tanta alegria e disponibilidade. Isto mostrou-me como é possível realizar TUDO aquilo que QUEREMOS fazer.

Há tanta gente que não sabe como empregar o seu tempo mas há outros que aproveitam BEM cada momento do dia. Bem haja quem assim dá testemunho.

16 Jun, 2007

O valor das notas

Estou meio triste porque um aluno não aceita a nota que eu lhe dei.

De facto durante o ano andou a brincar, ouvir música na aula, à conversa com os amigos e nada de atenção ao que eu dizia. Quando o chamava à atenção respondia torto porque lhe parecia que eu implicava com ele.

Nada de enviar o trabalho que deveria fazer em vez do último teste e agora fica muito ofendido.

Detesto avaliar pessoas e principalmente de dar notas baixas mas vejo que se não lhe dou agora uma nota à medida dele, no próximo ano ninguém lhe põe a mão em cima porque pensa que só lhe falta um 7 ou coisa parecida para passar... 

Não sei como vai parar este assunto mas para já vai-me obrigar a, no futuro, encurtar mais a rédea ao dar notas e 'no estar na sala'.

Era tão bom que todos tivessemos consciência do que fazemos.

 

 

Este 'até para o ano' que alguns alunos me disseram puxou-me à lembrança os meus velhos tempos de 3ª ou 4ª classe em que se faziam ditados.

Era tudo bem explicado pela entoação do mestre-escola, o Sr. Cansado, enquanto ia passeando pela sala. Claro que um ponto era um ponto, muito diferente de um ponto final, parágrafo.

Está chegando ao fim o período de aulas ( à noite ainda irei mais um mês) e já vou vendo o parágrafo a mudar. Só que antigamente, no meu tempo de juventude, os professores sabiam mais ou menos o que os esperava nesta mudança e agora, neste tempo de ninguém, as incógnitas são tremendas. Vejo o concurso patético dos professores titulares mais parecido, grosso modo, com umas barracas que havia nas feiras com uns fios pendurados. Pagava-se um tanto e tinhamos direito a puxar um fio e, ou saía prémio ou não saía. Parece que aqui é mais ou menos parecido. Deste estou livre porque toda a vida fui livre e então não tive 'tempo' de chegar a este passo decisivo de ser ou não ser professor titular. Mas qualquer dia chega o meu concurso, dos professores contratados, e a pergunta é sempre a mesma: onde irei parar para o ano? perto ou longe de casa? com horário mais ou menos completo? que tipo de alunos irei encontrar? que disciplinas irei leccionar? Não imaginam, com certeza, o drama que escondem estas interrogações.

O 'parágrafo' está no fim e devo confessar que gostei. Encontrei alguns alunos que não eram pera doce mas que sempre me respeitaram. Tive momentos melhores e outros nem tanto mas penso que posso dar graças a Deus por este ano. Consegui ser eu!

Alguns alunos disseram-me que gostariam de me ter para o ano como professor. Terá sido mera cortesia? Deveria ter sido mais exigente? comigo próprio e com eles? Aprendi no escutismo a ser responsável, livre e respeitador...

Até para o ano, pessoal.  

Ponto final, parágrafo.

 

Cá estamos no mês de Junho.

O calor volta a apertar e esperamos que não venha com muita força, de repente, para não secar tudo.

Em Évora festejávamos, nos meus tempos, os três Santos populares: o Santo António, com grande quermesse no Oratório de S. José, dos Padres Salesianos, onde havia imensas barraquinhas com rifas, tiro ao alvo, carrocel e carros de choque, e a Feira do S. João com as festas da cidade no dia de S. Pedro.

Quanto ao Santo António, as festas acabaram nos Salesianos porque a Câmara exigia pesadas contribuições, esquecendo que as receitas eram a favor de uma escola sem rendimentos e por onde passaram ao longo de gerações tantos rapazes sem outra possibilidade de estudarem. Resta agora, por esta altura, o arraial da Porta de Avis onde há bailaricos e outros folguedos.

A Feira do S. João era uma das maiores concentraçãoes económicas do Alentejo pois não existiam grandes lojas, stands de automóveis nem de máquinas agrícolas e era nesta altura que apareciam as novidades nessas áreas. Havia montes de barracas de quinquilharia, loiças e comes e bebes com os seus cheiros característicos, do peixe seco junto das barracas das palhinhas, das sardinhas, ou  polvo assados, no centro do Rossio, das panelas fumegantes dos feirantes que comiam e viviam no meio de todo aquele pó, dos queijos, linguiças  e presuntos já na rua ocidental. Posso dizer que também os carrinhos do algodão doce ou das farturas nos transmitiam os seus cheiros...

Se descessemos à Horta do Bispo tinhamos a exposição pecuária e perto do bairro da Senhora da Glória, a par de S. Sebastião era a feira do gado.

Por esta altura, havia duas corridas de toiros: no dia de S. João e no dia de S. Pedro. Normalmente, no dia de S. João a cidade era invadida por milhares de pessoas vindas de todo o país em autocarros ou mesmo a pé ou de charrete, das terras visinhas. No Domingo entre os dois santinhos havia um desfile histórico com trajes antigos. No S.Pedro a festa era mais caseira - para os da terra,  acabando a noite com fogo de artifício.

Recordo com saudade a incursão, com minha avó, para comprar o peixe seco com que se faziam deliciosas sopas e sempre acompanhada pela compra de novos chapéus de palha para o verão e alcofas novas lá para casa.

Quando deixámos de fazer queijos em casa também passámos a ir à feira para os comprar e isto tinha o seu quê de ritual pois era preciso provar as várias curas, saber a origem, etc. Não havia queijo com leite de vaca nessa altura. Só de ovelha e de cabra. Compravam-se lotes para as sopas de alface com queijo, muito duros e engelhados, e de meia cura ou já curados para as merendas . A fase do queijo fresco já tinha passado em Março e Abril onde íamos comprá-los aos alavões juntamente com o almeice donde se fazia, já em casa, o requeijão com uns grandes coadores de vários panos. Uma vez por outra, perto da Páscoa, dava direito a fazerem-se queijadas que em casa dos meus avós eram uma delícia.

E digam lá se não é bom recordar...