O Primeiro Ministro tem andado, como alguns membros do Governo, a distribuir computadores por várias escolas do país, demonstrando aos eleitores o interesse político em que as pessoas utilizem as novas tecnologias e progridam qualitativamente nas suas carreiras.
A escolha da população alvo – os formandos das Novas Oportunidades, os alunos do 10º ano, e os professores do ensino básico e secundário – mostra que o Governo pretende premiar a qualificação profissional.
O tempo de antena aproveitado nos referidos noticiários tem sido uma boa promoção da imagem deste governo que, por ventura, andaria algo desgastada.
Podemos concluir que é um óptimo e estruturado marketing da Política.
Mas, será que este marketing da Política tem alguma coisa a ver com as políticas de Marketing? Esta campanha, para além do acerto de contas das telefónicas sem fios com o Estado, terá cumprido alguma das regras inerentes ao Marketing enquanto ciência?
Vejamos apenas um factor: Ir ao encontro dos desejos dos consumidores.
Não foi perguntado à população ligada à aprendizagem (alunos e professores) quem precisa de um computador, mas foi escolhido um segmento muito limitado de cidadãos, caracterizado por ter conseguido o diploma das Novas Oportunidades, ser aluno inscrito no 10º ano, ou ser professor do ensino básico ou secundário. Estes cidadãos podem já ter computador em casa com ligação à net mas ficam com direito a aproveitar esta campanha.
Um aluno do 11º ou do 12º que não tenha computador, ou um professor que esteja agora desempregado, não pode concorrer. Claro que os meios são escassos e não se arranja um computador para cada português...
Mas todos os necessitados de um computador, dentro dos beneficiados, terão interesse numa ligação à net sem fios? Não ficaria mais barato, nalguns casos, computadores de secretária?
E será que os alunos do 10º ano nocturno não têm os mesmos direitos do 10º ano diurno?
Ou que os alunos do ensino recorrente, que fazem um esforço titânico de frequentarem durante três anos, noite após noite das 7 à meia noite, depois de um dia de trabalho, para conseguirem o seu diploma, têm menos mérito que os que foram ‘repescados’ para em meia dúzia de meses se prepararem nas novas oportunidades?
O meu caso concreto é paradigmático!
Como professor do ensino secundário oficial, pensava que estava contemplado na lista dos ‘eleitos’. Tanto mais que este ano trabalho a mais de 150 km de casa ( graças a Deus, que há muitos colegas que não foram colocados ) e deixei o meu computador para que a minha filha possa trabalhar para o seu curso universitário.
Fiz a pré-adesão à TMN – não há grandes escolhas quanto ao fornecedor do serviço – e fiquei à espera que um senhor ministro fosse à minha escola para me entregar o computador . Enganei-me.
Como professor contratado terei de esperar pelo final de Outubro para ter acesso à minha vez.
Tenho três disciplinas novas este ano para leccionar. Irei trabalhando na sala dos computadores da Escola, levando e trazendo manuais, pen e papel de impressão, tentando concentrar-me no meu trabalho .
A intenção é boa mas a burocracia é demasiada!