A Responsabilidade Social e a Auto-avaliação
Na convulsão desta crise onde estamos imergindo vêem-se milhares de pessoas e de famílias cuja perda de emprego leva à pobreza. Primeiro, de uma forma envergonhada, escondida e quase com um sentimento de culpa. Depois, mais afoita e desinibida, que a barriga pede alimento e um homem não é de pedra.
O Governo promete alargamento do subsídio de desemprego durante mais uns meses e continua a falar na criação de milhares de novos postos de trabalho que são invisíveis para olhos desempregados…
É verdade que muitas pequenas obras públicas trarão um potencial de fixação de empregos, mesmo que temporários, geradores de procura e logo, num efeito multiplicador, geradores de mais empregos indirectos. É necessário porém que estas contratações sejam transparentes e claras de modo a não ajudarem apenas os ‘boys’ mas a rapaziada toda. È que esta autorização de adjudicação de empreitadas sem concurso público tem muito que se diga numa sociedade que não prima muitas vezes pela lisura no negócio. Luvas e quejandos são fantasmas que se pressentem sem necessidade. Bastaria que os concursos se fizessem com mais celeridade, com menos formalismos, talvez, mas com um espírito de transparência e de responsabilidade social. Seria conveniente que houvesse uma instituição independente para analisar se em cada concurso apareciam realmente vários concorrentes sem acordos escondidos como soe acontecer tantas vezes.
Há quem proponha o abaixamento dos impostos. Embora com o risco de ‘ir o sapateiro além do chinelo’, considero que seria mais vantajoso fixar tectos salariais que não fossem escandalosamente elevados, acima dos quais se taxaria a valer e que se fizesse uma pressão dissuasora para a não existência de múltiplos empregos concentrados em cérebros ‘privilegiados’. De igual modo penalizaria os beneficiários de ‘cartões dourados’, gasolina em excesso, carros topo de gama, despesas de representação absurdas, etc…
Haja coragem de dar o exemplo a partir de cima.
Da mesma forma como o Estado tem obrigação de criar emprego com as tais pequenas obras públicas, deveria haver um controlo rigoroso no despedimento colectivo em tantas empresas. Que uma entidade independente controle eficazmente estas empresas e as suas razões para o pretendido despedimento. No tempo em que se consideravam as pessoas sobre o lucro mandava-se semear pedras depois de se terem juntado, para que os trabalhadores recebessem o seu salário.
Não digo, como alguns políticos, que devem ser os ricos a pagar a crise, mas num sentido de solidariedade, os que têm possibilidades financeiras devem dar as mãos aqueles que as não têm.
A Responsabilidade Social no seu aspecto de envolvimento com a comunidade, poderá ser a resposta. Uma empresa com desafogo financeiro, embora possa não ter trabalho por ter os armazéns cheios de produtos ou de mercadorias à espera de serem escoados, em vez de despedir os seus trabalhadores, os obrigar a entrar de férias forçadas ou reduzir as horas de trabalho com redução de vencimentos, fomente o trabalho voluntário dos seus colaboradores em organizações de interesse público, pagando a empresa essas horas, ou dê formação aos seus trabalhadores, aproveitando inclusive as Novas Oportunidades, do Ministério da Educação, diminuindo as horas em posto de trabalho para que as utilizem neste âmbito de aprendizagem.
É esta a solidariedade responsável que poderá fazer toda a diferença.
Vamos entrar na Quaresma. Será, por ventura, O tempo oportuno para não se viver na indiferença: ‘Que tenho eu a ver com o meu irmão?’