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decordovanaturais

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20 Abr, 2010

Matutando na Europa

“1 - How can a european union 'citizen' identity be produced?

2 - Is economic, social or political E.U. citizen identity most achievable, or a misture of all three?

3 - How can the 'core values' of the european union contribute to the construction and development of european union 'citizen' identiy?”

 

Considero que as três questões são pertinentes e convergentes. Em primeiro lugar devo confessar, aliás devo ter afirmado isso várias vezes nas aulas, que para mim e para as pessoas da minha idade será difícil adaptarmo-nos a uma união política na Europa, tipo federação de Estados , ou mesmo uma confederação. É importante perceber que as duas grandes federações que conhecemos – Os Estados Unidos da América e o Brasil – são países com cerca de 200 anos de história e logo desde o princípio regidos por este estatuto de um estado complexo, isto é, um estado soberano formado por vários estados não soberanos. As pessoas que se foram aglomerando para formar uma nação destas sabem como se devem integrar para serem aceites como povo homogéneo.

Na Europa temos países com história de 900 anos, sempre lutando para serem livres e independentes como é significativamente o nosso caso. Claro que encontramos no mosaico europeu países federados como a Alemanha ou a Suíça ou mesmo a Grã Bretanha composta pela Inglaterra, Escócia, Gales e Irlanda do Norte. Verificamos que tentativas de unificação como no império romano, no carolíngio, no austro-espanhol com Carlos V, no francês com Napoleão ou no Reich de Hitler não conseguiram ir por diante ‘pois existem muitas raças de galos na capoeira’. A Europa tem uma guerra quase permanente ao longo dos séculos, ou por questões linguísticas, de religião, ou outras. Será que esta maneira diferente por ser menos imposta e mais negociada conseguirá o que a espada e o canhão não conseguiram?

A nova geração, que já nasceu neste ambiente, é que poderá desejar construir esta identidade de cidadania na União Europeia. É minha convicção que o modo como foi aprovado o acordo de Lisboa foi demasiado apressado, feito de cima para baixo e com muitas pressões de uns estados na decisão dos outros. No entanto não quero ser ‘o velho do restelo’ e tenho de facto esperança nos jovens.

Dada esta ‘punhalada’ na questão política, quero transmitir o meu orgulho na união monetária que se tem mostrado forte e segura, possibilitando que vivamos num dos espaços com melhor qualidade de vida e estabilidade monetária. No entanto há feridas abertas provenientes da política económica existente nalguns países focando novamente o caso português – é fundamentalmente a disparidade no leque salarial com os escândalos dos prémios dados aos gestores sem qualquer respeito pelos restantes parceiros sociais, bem como na deslocalização de empresas que deixam para trás centenas de milhares de desempregados. Esta muito falada semelhança entre o caso grego e o português baseia-se em que a classe dominante vê que existe perigo de ruptura económica e ‘impinge’ sacrifícios às classes baixas e desprotegidas, ao contrário da Irlanda que talvez estivesse numa situação parecida mas que exigiu às classes dominantes a darem o exemplo. O Condestável Nuno Álvares Pereira mostrou ser possível tornar forte a fraca gente porque ele próprio se expunha aos mesmos perigos dos seus subordinados. Não se deve mandar – deve-se ir à frente!

Mas ao apontar as maleitas da política económica não podemos certamente esquecer o grave consumismo que infesta a economia mundial e, especificamente para nós, a europeia. Penso que se poderá tirar algum proveito das cinzas do vulcão islandês para ver como a nossa economia cai como um baralho de cartas com um simples vendaval. Verificamos como a fruta asiática ou as flores de Israel se tornaram lixo de um dia para o outro pela impossibilidade em efectuar o seu transporte atempado. Não quero contudo desprezar o mercado global, antes acarinhá-lo pela fixação das populações em países do Sul em vez das intermináveis massas imigrantes que invadem o nosso espaço. Mas é importante verificar que não somos donos do tempo, no sentido meteorológico, nem podemos pensar que todas as riquezas do planeta são dos países ricos. O preço justo tem de ser visto como uma prioridade. O Papa Bento XVI na sua encíclica Caritas in veritate aponta o caminho para que possamos encontrar a saída.

Resumindo, que a conversa vai longa. A Europa tenderá a ser um aglomerado de regiões com uma certa autonomia e onde se dará importância ao Homem enquanto tal. Para isso é fulcral atender à responsabilidade social das organizações. Na medida em que a natalidade diminuir assim a independência da União desaparecerá, subjugada à enormidade de imigrantes que aumentam todos os dias. A solução passará por dar condições de trabalho nos países de origem por modo a travar o êxodo dos países pobres para os países ricos. É imprescindível acabar com a corrupção que cria disparidades entre os preços na origem e no final bem como terminar também com a disparidade de rendimentos, fonte certa de desentendimentos.

Pedras d’El Rei, 20 de Abril de 2010