O caminho de Maria foi desejado por Deus logo que o homem pecou ao desobedecer e comer do fruto da árvore da Vida. Logo aí o Senhor prometeu enviar o Seu Filho a fim de redimir a humanidade;
O caminho de Maria concretizou-se no momento da sua concepção como dom especial de Deus ao isentá-la do pecado original;
O caminho de Maria foi pavimentado na Santa Família de Nazaré. Ela nasceu numa família temente a Deus e que certamente deu provas concretas de que seriam dadas todas as condições de criar e educar aquela jovem, não apenas no aspecto de saúde, mas essencialmente no da educação religiosa e moral, em que Santa Ana e S. Joaquim foram verdadeiros cantoneiros, florindo as bermas, limpando valas, varrendo as pedras e impurezas que lá caíssem, conservando os sinais de trânsito através do ensino da Lei de Moisés, e ensinando que o melhor meio de transporte é a humildade / simplicidade;
No caminho Maria teve um companheiro de viagem que era discreto, calado, vigilante e que soube também escutar a Palavra de Deus e aceitá-la – José, seu esposo;
O caminho de Maria mostrou uma bifurcação onde era necessário optar pela saída certa. O sinaleiro foi o anjo Gabriel que desafiou Maria a seguir para o paraíso embora a entrada fosse um túnel encoberto. Como modelo do crente foi preciso crer, confiar e consentir. O Sim de Maria foi como que a outorga da Nova Aliança em que Deus se fez homem e que assim nos abriu à esperança da ressurreição.
Quando o anjo a saudou, Maria ficou perturbada pois não estava à espera de receber aquela honra divina. Qualquer donzela de Israel sabia que a profecia se havia de cumprir mas estavam por resolver várias questões: Quem, como, onde, quando…
- Quem: Foi Maria a escolhida pois a sua vida era transparente, cheia de graça transbordante mercê da mão protectora de Deus, isentando-a do pecado original, mas também da sua própria vontade de aceitar a Deus como seu único refúgio e sumo bem;
- Como: Apoiada na confiança inculcada desde pequena, Maria consente. Através deste Fiat, dado tão conscientemente ao perceber que era essa a vontade de Deus;
- Onde: No meio do Povo escolhido e da descendência de David, no recolhimento do seu quarto, no amago da oração de entrega total;
- Quando: Na plenitude dos tempos, no seguimento dos anúncios transmitidos pelos profetas da vinda do Messias e depois da tomada de consciência por aquele povo, sofrido e que sabia ser pecador, de que havia Vida para além da morte.
Será esta anunciação do anjo a Maria uma das marcas mais relevantes da história da salvação. Com este Sim de Maria Jesus encarna, passa a estar connosco. A humanidade é elevada até Deus pois Jesus é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus.
O caminho de Maria com este acto de fé e de entrega deixa de ser uma estrada secundária, camarária, de macdame, e passa a ser um itinerário principal, uma estrada real.
O caminho de Maria não é particular, egoísta, fechado, mas é aberto aos outros. Logo que o anjo lhe diz que sua prima Isabel, já idosa, estava no sexto mês e por isso precisaria de ajuda ela decide ir em seu auxílio. Não teme o cansaço de subir à montanha, não teme os malfeitores, disponibiliza-se de imediato sem fazer contas à sua vida. Isto porque aprendeu desde pequena a:
- Estar atenta: tem o discernimento de perceber os sinais para servir de mãos ao Senhor;
- Saber ouvir a voz de Deus que é suave e silenciosa;
- Ser prática e concreta naquilo que faz, arregaçando as mangas e sem grandes conversas;
- Ser alegre, testemunhando e exultando no louvor permanente a Deus;
- Ser meiga e ternurenta através do amor que põe no que faz;
- Saber dar gratuitamente pois percebe que a sua obra é de Deus;
- Ser discreta, de modo que não faz alarido das suas acções, antes mostra que a mão direita não deve saber o que faz a esquerda.
O caminho de Maria passa pelo desconforto de não ter um quarto na estalagem, uma parteira diplomada a assistir ao parto, um enxoval bordado para o Menino recém-nascido. Passa por uma gruta simples, pobre, onde se pôde admirar como aqueles pastores foram convocados para darem glória a Deus pelo nascimento do Menino ou como aqueles magos terão sabido pela estrela que os encaminhou para aquele descampado. Terá passado pela surpresa ao ver como Simeão anunciou o Messias ou percebido o risco das espadas profetizadas por Ana. Terá chorado ao saber da matança dos inocentes como os primeiros mártires a testemunharem o Salvador. Passou pelos riscos dos refugiados e migrantes que não sabem o que é o dia de amanhã numa terra estranha, uma estrada desértica, agreste e pouco apetitosa;
O caminho de Maria passa muitas vezes pelo Templo, numa entrega permanente e contínua do seu Filho a Deus, sem perceber mas guardando tudo no seu coração. Passa pelo drama dos pais que perdem os filhos, mostrando como se devem procurar, com preocupação mas sobretudo com esperança em Deus.
O caminho de Maria terá passado pela perda do marido, pelos altos e baixos da vida, pelo acompanhamento do seu Filho, umas vezes com preocupação, outras com alegria de discípula quando se apercebeu de quem se tratava e da Sua missão.
O caminho de Maria passou, inegavelmente, pelo Calvário. As Suas dores foram espadas afiadas, diferentes das dores anteriores por ter aqui as mãos atadas e não conseguir livrar Seu Filho. Não sabia ainda que a nossa salvação teria de passar por aquela paixão e morte de Jesus. Ficou de pé junto à Cruz e aí se apercebeu da Sua nova missão: Mulher, eis aí o teu filho! E Jesus disse ao discípulo: Eis a tua Mãe!
O caminho de Maria fez-se em Igreja. Estava com os apóstolos no cenáculo e com eles recebeu o Espírito Santo. Acompanhou João no seu apostolado e adormeceu em paz sendo assumpta ao céu pois não poderia sofrer corupção aquele primeiro sacrário.
Desde sempre a Igreja A assumiu como sua Mãe e modelo, tomando-A como intercessora nos momentos difíceis porque passou ao longo da história. Declarou-A desde logo como Mãe de Deus e como tal colocou-A em primeiro lugar entre todos os cristãos, mas também a declarou Imaculada na Sua Concepção e Assumpta ao Céu em corpo e alma.
O caminho de Maria passa de um modo profundo por Portugal:
- desde o nosso primeiro rei A tomar como padroeira em Guimarães na Igreja de Nª Sª da Oliveira;
- do rei D. João I Lhe dedicar o mosteiro de Nª Sª da Victória, em Aljubarrota e o Condestável a venerar de um modo tão especial que A representou no seu estandarte e mandou edificar o templo que dedicou a Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa;[1]
- dos lentes da universidade de Coimbra a jurarem na Sua Imaculada Conceição;
- do rei D. João IV a proclamar rainha de Portugal;
- dos bispos portugueses A terem elegido como patrona das suas catedrais…
E Maria, reconhecendo esta devoção nacional quis vir pessoalmente a Fátima pedir-nos para rezarmos o terço como arma infalível contra o demónio que vagueia pelo mundo.
Maria quer que a acompanhemos neste caminho pelo que nos pede oração e penitência pelos pobres pecadores. Saibamos abrigar-nos no Seu Coração Imaculado para que estejamos salvos no Sagrado Coração de Jesus.
Dou graças a Deus pelo dom da Vida, pelos meus Pais, Avós, Irmãos e também pela minha Mulher , Filhas e Netos. Mas também bendigo a Maria que sempre me quis acompanhar no meu próprio caminho, logo porque fui baptizado perante a imagem peregrina de Nª Sª de Fátima na sua peregrinação a Évora em Dezembro de 1947, com o nome de Nuno de Santa Maria, e me confortou e fortaleceu ao longo de toda a vida, tendo eu provas concretas da Sua protecção em momentos mais sombrios da minha história.
Desafiou-me para ser cavaleiro da Imaculada, servita de Fátima, escravo de Jesus através do Coração de Maria e confrade nesta Régia Confraria de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa. Tenho confiança na continuação da Sua protecção pois conheço bem as minhas fragilidades e sei que só com o Seu auxílio poderei ser um cristão adulto deste tempo.
Sonhador que sou
Eu sonhei um dia
Que era marinheiro.
Para onde é que iria?
Largava para longe,
Que só Deus sabia,
E buscava, alegre,
Alguém para Guia.
A ver se encontrava,
Todos inquiria.
Em névoa suave
Alguém me sorria…
Tateei na névoa…
… Encontrei Maria.[2]
Com Maria, em Maria e por Maria espero poder continuar e defender a Santa Igreja, submetendo-me em tudo às indicações do Santo Padre e do meu Bispo. Que Ela seja sempre o meu modelo a seguir.
Deste modo juro vassalagem perpétua a Maria como minha Mãe, Senhora e Rainha, pedindo-Lhe que me proteja neste voto pois sei quão fraco sou e mais Lhe peço que, no final da minha vida, me venha buscar e me conduza ao paraíso.
Na Anunciação do Anjo, Aceitação de Maria e Encarnação de Jesus, no Ano da Graça de 2017, no centenário das aparições de Nª Sª em Fátima,
Nuno Álvares de Santa Maria de Sá Potes Cordovil
[1] iniciando as obras em 1384, o primeiro templo assim consagrado no Ocidente e de ter criado a Regia Confraria de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, em 1385,;
[2] (29Mar1994) Em diáspora familiar, durante a Peregrinação a Tuy e Pontevedra, Domingo de Ramos, incluído na minha carta de compromisso para Servita.