Com a pandemia do Covid 19 muitos trabalhadores viram reduzido o seu rendimento pelo encerramento das empresas onde trabalhavam, ou porque estas entraram em lay off, ou porque simplesmente terminaram os contratos de trabalho.
O Governo tem fomentado a proposta ‘Faça férias cá dentro’, com o propósito defensável de que se escolham destinos turísticos dentro do país e assim dinamizar as empresas hoteleiras, de restauração e demais comércio e serviços ligados ao turismo. Considero positivo este propósito que trará certamente aumento no emprego e não desperdício de dinheiro em importação, se as férias forem no estrangeiro.
Esta dinâmica infelizmente deverá ser insuficiente para sanar o problema do desemprego total e muitos serão os que continuam sem rendimentos suficientes de um modo mais ou menos prolongado. Constata-se que são principalmente os mais pobres quem mais sofre este drama pois, ou tinham empregos não especializados e portanto com uma retribuição baixa, ou seriam empresários em nome individual ou mini ou micro empresários sem grandes perspectivas de retoma de actividade. Acresce que muitos deles já antes da pandemia tinham problemas financeiros por terem pedido créditos com juros bastante altos de que não se conseguem libertar.
O projecto ‘Fique por dentro, caia fora’ pretende dinamizar uma formação de assessoria em gestão doméstica ao mesmo tempo que cria espaços ou tempos de entretenimento e desanuviamento para os próprios e seus familiares, como meio de tentar ‘esquecer’ ou pelo menos atenuar o estresse, e participação em oficinas lançando propostas de criação de pequenas fontes de rendimento alternativo e lançamento de uma moeda de troca através da implementação de um Banco Comunitário de Desenvolvimento. Deus convida-nos a comprar sem dinheiro vinho e leite (Is 55,1) mas não é só o alimento espiritual de que se trata. É possível melhorar o nível de vida através de trocas, sem necessidade de ter dinheiro.
O Governo tem proposto que as pessoas sem rendimentos, e que estavam ‘fora do sistema’ entrem nele para assim terem direito a subsídios. É verdade que alguns biscateiros vivem voluntariamente neste sistema com elevados rendimentos por vezes, pois fogem ao IVA e ao IRS, ‘enganando’ os consumidores pela comparação de preços com outras entidades sujeitas às Finanças. Mesmo algumas empresas constituídas o fazem, cobrando preços sem IVA (e sem factura) que para muitos particulares parece bastante vantajoso pois tem 23% de ‘desconto’ que de outra forma teriam de pagar sem direito a deduzirem este imposto. Considero que é totalmente diferente o caso de quem faz um biscate por outro e ‘cobra’ uns euros para gastar na cerveja, ou a empresa que consegue fugir ao IRS/ IRC por apresentar uma facturação anual muito mais baixa com estas transacções. Se o aceito nos primeiros, considero que os segundos concorrem à evasão fiscal perante a passividade dos consumidores. É neste contexto que subscrevemos a ideia da utilização de uma moeda de troca que possibilite o aumento do poder aquisitivo a quem o não tem.
Voltemos à nossa semana de férias e às actividades aí propostas:
a)- assessoria em gestão doméstica – uma formação em cerca de 15 horas com várias dicas sobre o procedimento de um sobre endividado, ensinando a prática de um orçamento familiar, distinguindo o bem essencial do supérfluo, fomentando a criatividade, incentivando ao comércio local e revendo os contratos de financiamento;
b)- espaços ou tempos de entretenimento e desanuviamento – série de actividades culturais, lúdicas, sociais e desportivas para os utentes e seus familiares, como visitas a museus, ensaio de uma peça teatral, ajuda nos estudos, acompanhamento nas piscinas… ;
c)- oficinas para criação de pequenas fontes de rendimento alternativo – com vários tipos de trabalhos práticos, com ideias criativas e utilização de equipamento para experimentar receitas culinárias, reparação de pequenos electrodomésticos, artesanato, jardinagem…;
d)- lançamento de uma moeda de troca através da implementação de um Banco Comunitário de Desenvolvimento - o Banco do Roseiral, com a sua moeda de troca ‘Rosinha’ a utilizar entre parceiros solidários.
Durante este período os utentes e seus familiares terão as suas refeições na Instituição promotora de modo a criar um clima de férias e descanso. Claro que para isso é necessário encontrar fontes financiadoras, como alguns privados (a quem sobre algum dinheiro depois das suas próprias férias), a Autarquia ou o próprio Estado posto que os beneficiários irão melhorar a sua capacidade de resposta ao problema financeiro em que se encontram.
A Casas de Sant’Ana e S. Joaquim, em Évora, propõe-se a implementar estas férias se houver algum mecenas que as financie. Bem hajam!