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decordovanaturais

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O retábulo ‘O Túmulo Aberto’, de D. João Marcos exposto no Seminário de Penafirme, é bastante elucidativo da vida e missão de Jesus Cristo.

Trata-se de um conjunto de quadros representando vários momentos fundamentais da História da Salvação para um cristão.

Lido de baixo para cima, contemplamos:

No 1º patamar  o Nascimento em Belém, com o anúncio aos Pastores e a chegada dos reis magos, seguindo o sinal da estrela;

No patamar do meio (e central) encontramos o mistério da paixão / ressurreição, na contemplação do túmulo vazio, no desejo das mulheres que querem tratar o corpo de Jesus e se deparam com o túmulo vazio, e também na dispersão dos discípulos após o fracasso da Paixão, no episódio dos discípulos de Emaús que passará na sua compreensão da ressurreição, ao partir do pão;

No patamar superior, a Ascensão de Jesus ao Céu e o crescimento da Igreja, tanto entre os judeus como entre os gentios.

Considero, no conjunto, um destaque para os dois bicos, o inferior que enraíza o Menino Jesus na História do Povo de Israel e o superior que aponta para a Divindade de Jesus, que não cabe na dimensão humana (do quadrado).

Vejo como figuras mais coloridas Maria, no presépio e Jesus, tanto no presépio como na Ascensão.

Da totalidade dos quadros destaca-se a humanidade e a divindade de Jesus, o Cristo, bem como a Sua importância na ligação entre a Nova Aliança e a Antiga, baseada nas promessas a Abraão e na Lei dada a Moisés.

O Evangelho transmite-nos a missão de Jesus, o Filho de Deus, que veio resgatar a humanidade do pecado original. Não apenas se pode representar em palavras mas também em figurativo, como é o caso deste retábulo, aliás como é tradição da Igreja. No Alentejo, designadamente onde havia muita iliteracia, pelos campos fora podemos deparar com muitas capelas que são verdadeiros catecismos através de frescos, pinturas e imagens.

Relacionemos então os vários quadros na leitura das Escrituras:

No patamar inferior:

E quando eles [Maria e José] ali [em Belém] se encontravam, completaram-se os dias de ela dar à luz e teve o seu filho primogénito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria. (Lc 2, 6-7)

Acontecerá no fim dos tempos: O monte da casa do Senhor será estabelecido no cimo dos montes, e se elevará sobre as colinas. Os povos acorrerão a ele. E numerosas nações ali afluirão, dizendo: Vinde, subamos ao monte do Senhor, à casa do Deus de Jacob, Ele nos ensinará os Seus caminhos, e andaremos pelas Suas veredas. Porque a doutrina sairá de Sião, e a palavra do Senhor, de Jerusalém (Miq 4, 1-2).

É importante perceber como os primeiros a ter conhecimento do nascimento do Menino são os pastores, uma classe pobre e humilde, desprezada e considerada ‘pecadora’ pela elite religiosa da época e os segundos, os magos do oriente, considerados pagãos aos olhos dos judeus; É  igualmente importante ver como o Prometido de Deus quis nascer num estábulo e não num palácio para nos ensinar que a humildade vale mais que as riquezas; O ‘monte da casa do Senhor’ é aqui a Palavra, o Verbo de Deus, a fonte de sabedoria que os profetas anunciavam e todo o judeu esperava ansiosamente como Messias; Finalmente é também importante ver que este Menino nasceu, não apenas para a salvação do povo da aliança mas para todas as nações.

No patamar central:

E [José de Arimateia], descendo-O da cruz, envolveu-O num lençol e depositou-O num sepulcro talhado na rocha, onde ainda ninguém tinha sido sepultado… Entretanto as mulheres que tinham vindo com Ele da Galileia, acompanharam José, observaram o túmulo e viram como o corpo de Jesus fora depositado. Ao regressar, prepararam aromas e perfumes… No primeiro dia da semana, ao romper da alva, foram ao sepulcro, levando os perfumes que haviam preparado. Encontraram a pedra do túmulo removida e, entrando, não acharam o corpo do Senhor Jesus. Estando elas perplexas com o caso, apareceram-lhe dois homens em trajos resplandecentes… Porque buscais entre os mortos Aquele que vive? Não está aqui, ressuscitou! (cf Lc 23, 50 – 24, 10)

Nesse mesmo dia [da ressurreição do Senhor], dois deles iam a caminho de uma aldeia chamada Emaús… e conversavam entre si sobre tudo o que acontecera. Enquanto conversavam e discutiam, acercou-se deles o próprio Jesus e pôs-se com eles a caminho; os seus olhos, porém, estavam impedidos de O reconhecerem. Disse-lhes Ele: Que palavras são essas que trocais entre vós, enquanto andais? Pararam entristecidos, e um deles, de nome Cléofas, respondeu: Tu és o único forasteiro em Jerusalém a ignorar o que lá se passou nestes dias! Perguntou-lhes Ele: Que foi? (Lc 24, 13- 32)

Nestes 3 quadros aparece-nos a mensagem fulcral da fé cristã: Jesus padeceu, morreu e, ao terceiro dia ressuscitou! Jesus mostra-se assim como verdadeiramente Homem e como verdadeiramente Deus. Já os magos Lhe tinham oferecido mirra, sinal da precaridade do homem, mas também incenso, homenagem a Deus, bem como ouro, sinal de senhorio. Perante o túmulo vazio as mulheres temem que os Judeus O tenham escondido, e os dois discípulos desanimados, voltavam para casa. Tudo parecia acabado. Mas as mulheres escutaram aqueles homens que lhes apareceram no túmulo, e acreditaram. Jesus vencera a morte! Foram anunciá-lo aos apóstolos, mas as suas palavras pareceram-lhes um desvario e eles não acreditaram nelas, Pedro, no entanto, pôs-se a caminho e correu ao sepulcro. (Lc 24, 11-12) .

No patamar superior:

Abriu-lhes, então o entendimento para compreenderem as escrituras… Vós sois as testemunhas destas coisas. E Eu vou mandar sobre vós O que Meu Pai prometeu…(cf Lc 24, 44- 53)

Perguntaram-Lhe: Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel? Respondeu-lhes: Não vos compete saber os tempos nem os momentos que o Pai fixou com a Sua autoridade. Mas ides receber uma força, a do  Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até aos confins do mundo. Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem subtraíu-O a seus olhos. E como estavam com os olhos fixos no Céu enquanto Ele se afastava, surgiram de repente dois homens vestidos de branco que lhes disseram: Homens da Galileia porque estais assim a olhar para o Céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu, virá da mesma maneira, como agora o vistes partir para o Céu. (Act 1, 6-11)

E disse-me ainda: não seles as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está próximo. Aquele que é injusto continue a ser injusto, e aquele que é impuro continue a ser impuro; o que é justo continue a praticar a justiça e o que é santo continue a santificar-se. Eis que venho em breve e trarei comigo a recompensa: darei a cada um segundo as suas obras. Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim. Felizes os que lavam as suas vestes, para terem direito à Árvore da Vida e poderem entrar, pelas portas, na Cidade. Ficarão de fora os cães, os feiticeiros, os impúdicos, os homicidas, os idólatras e todos os que amam e praticam a mentira…

O Espírito e a Esposa dizem: Vem! E aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede, venha. Aquele que o deseja, receba gratuitamente a água da vida. (Cf Ap 22, 1, 21).

Também nós hoje, no século XXI, somos convidados a sermos testemunhas: Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé estava com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-se no meio deles e disse: A paz esteja convosco. Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo e vê as Minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no  Meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente. Respondeu-Lhe Tomé: Meu Senhor e meu Deus! Disse-lhe Jesus: Porque Me  viste, acreditaste. Bem-aventurados os que, sem terem visto, acreditam. (Cf Jo 20, 19-29). A todos e a cada um de nós a Esposa, que é a Igreja, convida a bradar com Alegria: Vem Senhor Jesus!

Olhando com atenção o retábulo vejo, que abrangendo todo o espaço, aparece em fundo uma porta escura escancarada, que quanto a  mim representa a Morte, que foi vencida pela ressurreição de Jesus, ou as Trevas, reino de satanás. No princípio já existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, no princípio, com Deus, tudo começou a existir por meio dEle e, sem Ele, nada foi criado. Nele estava a Vida e a Vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a admitiram. (Jo 1, 1-5). Saibamos buscar a Luz e caminhar para a salvação, água da vida, que nos é oferecida gratuitamente.

Não sou grande conhecedor de arte mas constato que o bonito me ajuda a encontrar a Paz de Deus. E este trabalho de D. João Marcos fez-me sentir com esta vontade de bendizer o Senhor.

 

Apareceram os fariseus e começaram a disputar com Ele, solicitando-Lhe um sinal do céu, para O experimentarem. Jesus, suspirando profundamente, disse: Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: Sinal algum lhe será concedido. E, deixando-os, embarcou de novo e foi para a outra margem Mc 8, 11- 13). Jesus não é actor de teatro e não pretende fazer de ilusionista ou parecido. Veio para anunciar o amor de Deus, chamar à conversão e incutir Fé, incrustada na Caridade pois a salvação não é individual mas comunitária. Também Herodes Lhe há-de pedir para fazer um milagre, sem resultado. Os sinais de Jesus não são para aplaudir como espectáculo mas para aceitar como graça. Quando há falta de fé na assistência só se pode fazer uma coisa: embarcar de novo e ir para a outra margem. E o único sinal que lhes vai ser dado é o sinal de Jonas. E ao terceiro dia ressuscitou! Aleluia!

Várias curas são apresentadas nos Evangelhos mas normalmente o Senhor refere que foi a fé que curou. Pretendo hoje interiorizar apenas uma das três curas que são relatadas sobre pessoas cegas mas que parecem ser bem diferentes entre si.

O cego de Betsaida (Mc 8, 22 – 26)– Chegaram a Betsaida e trouxeram-Lhe um cego, suplicando-Lhe que o tocasse. São os ‘outros’ que trazem o paciente e que suplicam por ele. Este cego talvez nunca tenha ouvido falar de Jesus nem da Sua capacidade de cura, é parte mas não participa: limita-se a ir com quem o guia e nem sabe porque vai. Jesus tomou o cego pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Vejo aqui dois pontos importantes, sendo que um é o tomar pela mão, que significa empatia, carinho, um contacto pessoal e directo de Jesus que lhe quer dar a vista, e outro a condução para fora da aldeia em que leio uma mudança de ambiente, a um tempo necessária e obrigatória, necessária porque aquele ex-cego tem de cortar com o pessoal da aldeia que o considera incapaz, e obrigatória porque  ele terá de ser diferente no futuro, agora que curado. Jesus mandou-o então para casa, dizendo-lhe: Nem sequer entres na aldeia.  É muito explicito ao dar-lhe esta ordem. Agora é um homem novo e não pode voltar para trás. Terá de ir ter com os seus e anunciar-lhes que foi curado e dar glória a Deus. É também interessante ver que este homem não fica de imediato a ver bem, mas necessita de nova imposição das mãos, isto é sinal de que a conversão não é imediata mas lenta e progressiva.

Em Novembro de 1989 fui tocado por esta passagem do Evangelho ao fazer o passo da Retraditio no Caminho Neo Catecumenal e registei o meu pensamento no momento:

Retraditio

 

Cego sem o saber,

Cego sem entender,

Cego julgando ver

Cegos a quem socorrer.

 

Cegos a quem socorrer

Havia muitos à minha beira,

Mas vejo que os pobres ficavam

Apoiados na minha asneira.

 

Cego julgando ver

O que se passava ao meu redor,

Mas vendo com olhos do mundo

E sem a Verdade repor.

 

Cego sem entender

A minha realidade

Até descobrir lentamente,

De Cristo, a claridade.

 

Cego sem o saber

Até que me enlamearam.

E por Misericórdia Divina,

Pelo meu nome chamaram.

 

(11Nov89)