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decordovanaturais

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Morreu a Emília.

Quando ouvi a minha filha ao telefone apercebi-me de que se passava algo de grave pelo tom da sua voz. Perguntei-lhe o que havia e ela disse-me : -morreu a Emília. Pensei em tanta senhora Emília mas não atinei. Essas já todas três tinham morrido... Quem? perguntei de novo. -a minha amiga Emilia. De repente desmoronei de toda a minha segurança. A Emília, amiga de infância da minha filha, colega, confidente, comadre, com trinta e poucos anos? - morreu no parto, depois do bébé nascer. Uma hemorragia que não se conseguiu estancar. Num dos tais hospitais autorizados pelo senhor ministro porque os outros põem as parturientes em perigo...

A Emilia morreu deixando 5 filhos, um dos quais numa incubadora.

A primeira pergunta que fiz foi muito simples: Porquê meu Deus? Como é possível deixar morrer uma mulher que vai fazer tanta falta aos filhos? Depois rezei. E vi que a dádiva daquela vida não era em vão. Ela sabia que estava com uma gravidez de risco mas não quis abortar. Ofereceu a sua vida pela vida da sua Filha.

 No ano em que o aborto é legalizado em Portugal, em que por dá cá aquela palha a mulher chega a um hospital e pede para lhe tirarem uma pequena vida que luta por sobreviver, nessa altura o exemplo heróico da Emília mostra que a sociedade não está toda podre. Claro que não dará de mamar, não mudará as fraldas, não ensinará as primeiras palavras. Mas, tenho a certeza, acompanhará sempre os seus filhos. Sei-o pelo pensamento do meu Pai que ficou orfão com  a idade da pequena Beatriz, que é a afilhada da minha filha :

"Que pena tenho, Mãe, de não sentir

Vincado na memória o teu semblante ...

Eu era tão menino, tão infante,

Quando Deus te chamou, te fez partir !...

E no entanto eu sinto um coexistir

Entre nós, desfazendo o que é distante,

Comunhão que me torna confiante

De que estando em mim, podes me ouvir.

Eis a razão dos meus segredos, Mãe,

Dizendo o que não diz a mais ninguém

Esta mimalha voz dum triste triste ...

E, conformado, sinto-me feliz,

Ao pensar que no Céu, onde subiste,

Não deixas de escutar o teu Luiz."   

                                                   (Luiz Cordovil)

Obrigado, Emilia, pelo teu sacríficio. Pede ao Senhor pelos teus filhos , mas pede também pelas mães que o não sabem ser.

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