Jesus e a cura de um cego
Apareceram os fariseus e começaram a disputar com Ele, solicitando-Lhe um sinal do céu, para O experimentarem. Jesus, suspirando profundamente, disse: Porque pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo: Sinal algum lhe será concedido. E, deixando-os, embarcou de novo e foi para a outra margem Mc 8, 11- 13). Jesus não é actor de teatro e não pretende fazer de ilusionista ou parecido. Veio para anunciar o amor de Deus, chamar à conversão e incutir Fé, incrustada na Caridade pois a salvação não é individual mas comunitária. Também Herodes Lhe há-de pedir para fazer um milagre, sem resultado. Os sinais de Jesus não são para aplaudir como espectáculo mas para aceitar como graça. Quando há falta de fé na assistência só se pode fazer uma coisa: embarcar de novo e ir para a outra margem. E o único sinal que lhes vai ser dado é o sinal de Jonas. E ao terceiro dia ressuscitou! Aleluia!
Várias curas são apresentadas nos Evangelhos mas normalmente o Senhor refere que foi a fé que curou. Pretendo hoje interiorizar apenas uma das três curas que são relatadas sobre pessoas cegas mas que parecem ser bem diferentes entre si.
O cego de Betsaida (Mc 8, 22 – 26)– Chegaram a Betsaida e trouxeram-Lhe um cego, suplicando-Lhe que o tocasse. São os ‘outros’ que trazem o paciente e que suplicam por ele. Este cego talvez nunca tenha ouvido falar de Jesus nem da Sua capacidade de cura, é parte mas não participa: limita-se a ir com quem o guia e nem sabe porque vai. Jesus tomou o cego pela mão e conduziu-o para fora da aldeia. Vejo aqui dois pontos importantes, sendo que um é o tomar pela mão, que significa empatia, carinho, um contacto pessoal e directo de Jesus que lhe quer dar a vista, e outro a condução para fora da aldeia em que leio uma mudança de ambiente, a um tempo necessária e obrigatória, necessária porque aquele ex-cego tem de cortar com o pessoal da aldeia que o considera incapaz, e obrigatória porque ele terá de ser diferente no futuro, agora que curado. Jesus mandou-o então para casa, dizendo-lhe: Nem sequer entres na aldeia. É muito explicito ao dar-lhe esta ordem. Agora é um homem novo e não pode voltar para trás. Terá de ir ter com os seus e anunciar-lhes que foi curado e dar glória a Deus. É também interessante ver que este homem não fica de imediato a ver bem, mas necessita de nova imposição das mãos, isto é sinal de que a conversão não é imediata mas lenta e progressiva.
Em Novembro de 1989 fui tocado por esta passagem do Evangelho ao fazer o passo da Retraditio no Caminho Neo Catecumenal e registei o meu pensamento no momento:
Retraditio
Cego sem o saber,
Cego sem entender,
Cego julgando ver
Cegos a quem socorrer.
Cegos a quem socorrer
Havia muitos à minha beira,
Mas vejo que os pobres ficavam
Apoiados na minha asneira.
Cego julgando ver
O que se passava ao meu redor,
Mas vendo com olhos do mundo
E sem a Verdade repor.
Cego sem entender
A minha realidade
Até descobrir lentamente,
De Cristo, a claridade.
Cego sem o saber
Até que me enlamearam.
E por Misericórdia Divina,
Pelo meu nome chamaram.
(11Nov89)