Manjar branco com pelinhas
Manjar branco com pelinhas,
Comi eu semana e meia.
Deu-m’ a vizinha Raquel
Numa tigela bem cheia.
Tinha saudades, bem sei,
Dum manjar doce e macio
De peneiradas farinhas.
Já muitas receitas provei
E alguns tachos queimei
Para saborear lasquinhas,
Relevantes, saborosas,
Que à socapa eu roubei
De travessas bem fininhas:
Manjar branco com pelinhas…
Pois deram-me tal porção
Desse doce saboroso
Que fiquei de forra cheia,
Bem inchado e pesadão,
Com plena satisfação.
A quem teve tal ideia,
Não se diga ser forreta
Por sua boa intenção:
Deu pró jantar e prá ceia,
Comi eu semana e meia…
É dos doces mais gostosos
Que se pode imaginar.
O melhor mesmo é a pele…
Cor e cheiro saborosos,
Bem ao gosto dos idosos,
‘Inda mais fino que o mel,
Delícia para crianças,
Mas não fiquem invejosos
Deste óptimo pastel:
Deu-m’ a vizinha Raquel…
Fico muito agradecido
Aos meus amigos Zapico,
Companheiros nesta Aldeia,
Com gosto bem aferido,
Que me deixa estremecido,
N’amizade que granjeia.
E agora ao mandar
Meu verso desenxabido,
Vai um frasco à boleia
Numa tigela mal cheia.
(agradecimento atrasado, do Natal para a Quaresma, Abril de 2014)
O ‘Caldeira’, de Castelo Branco